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2016
Samambaia-DF

autores
Marcio Novaes Coelho Jr
Silvio Sguizzardi
Rafael Cohen

colaboradores
André Mesquita Britto
Caio Ferraz de Almeida Prado
Kamal Yazbek
Luiz Henrique Lourenço
Patrícia Sturm

CODHAB Samambaia

Concurso Público Nacional de Estudo Preliminar de Arquitetura para Unidades Habitacionais Coletivas, em Samambaia – Distrito Federal.

MEMORIAL

Contando com desenvolvimento urbano ordenado desde a sua criação, em 1989, o município de Samambaia é, atualmente, um dos que mais crescem no Distrito Federal, oferecendo boa qualidade de vida aos seus habitantes, com oferta de serviços e infraestrutura urbana, incluindo transporte público, que o conecta à capital federal por meio da linha Laranja do metrô de superfície, com estação terminal no centro da cidade. O seu oportuno adensamento populacional promove acesso de um número maior de cidadãos aos benefícios já oferecidos.

Neste contexto, o intenso processo de urbanização da cidade nos anos recentes vem reproduzindo, como em muitos municípios brasileiros, um modelo de ocupação do território para habitação coletiva, baseado na segregação espacial, representada por condomínios fechados, cercados por extensos muros ou grades e poucos pontos de contato entre o interior dos lotes e seu entorno.

Este processo acarreta sérios problemas de urbanidade, resultantes da formação de grandes áreas vazias, desconexas e fragmentadas, que geram escassas oportunidades de configuração de pontos de encontros e áreas de convívio social, pouca identificação, apropriação e noção de pertencimento do cidadão para com o espaço comum e, consequentemente, o descuido das áreas públicas e o aumento da sensação de abandono e insegurança.

Considerando esta realidade, a proposta ora apresentada baseia-se, como premissa inicial, no resgate da relação citadina de aproximação e compartilhamento, de coexistência e valorização da diversidade, por meio da diluição de barreiras entre público e privado e do incentivo à permeabilidade espacial, garantindo, entretanto, o necessário controle de acessos, privacidade e a adequada delimitação dos usos previstos.

O projeto visa, também, ao melhor aproveitamento potencial do lote urbano, atendendo à sua função social e buscando criar, mediante os parâmetros da legislação vigente, o número máximo de unidades habitacionais possível, sem prejuízo da qualidade dos espaços proporcionados. Para tanto, não apenas a tipologia arquitetônica e o dimensionamento dos ambientes foram cuidadosamente estudados e avaliados, mas, também, e fundamentalmente, a disposição da edificação mediante o seu entorno, estabelecendo uma inserção urbana baseada na integração espacial.

A implantação proposta obedece, em primeiro lugar, à melhor relação entre aproveitamento da área disponível, altura da edificação e os afastamentos mínimos das fachadas voltadas para logradouro público ou lote vizinho, tomando como referência projetual o lote com maior restrição (QR 612-CJ 01-LT 02), replicado aos outros quatro, conforme indicado nos diagramas.

A configuração espacial obtida conduz à definição do partido arquitetônico: duas lâminas independentes, interligadas pelo eixo de circulação central, sobre pilotis e pavimento térreo livre, com flexibilidade para adaptação às especificidades de cada lote.

O projeto desenvolvido para o lote estipulado (QR 503-CJ 9A-LT 04) nasce deste princípio, com implantação que incorpora o fluxo de circulação de pedestres e bicicletas entre a via de acesso situada a sul, a ciclovia existente e a via principal, com pontos de ônibus, a norte.

Para tanto, nas duas extremidades do lote são criadas praças de acesso, dotadas de bancos e arborização, oferecidas à cidade como pontos de encontro e convívio social. O paisagismo proposto proporciona o sombreamento destas áreas, para a formação de áreas de conforto. Ao longo do percurso traçado pelo transeunte, a inserção estratégica de uma obra de arte oferece o prazer estético do elemento surpresa e belo.

O térreo do edifício organiza-se a partir do hall de distribuição, que dá acesso à circulação vertical, a um espaço multiuso de lazer, ao bicicletário e ao estacionamento no subsolo. O pavimento tipo é formado por oito unidades habitacionais iguais, cujo acesso é feito pela circulação horizontal em meio a um amplo vazio central, que garante iluminação e ventilação natural aos espaços internos. No último pavimento, um terraço de lazer para os moradores se descortina sobre a paisagem da cidade.

A técnica construtiva adotada, concreto armado moldado in loco, com vedações em alvenaria convencional, é adequada, econômica e eficiente para vencer os vãos e suportar a carga prevista. A modularidade dos elementos estruturais permite a racionalização, padronização e o reaproveitamento das formas de concretagem. Com o intuito de tornar mais leve a circulação horizontal do pavimento tipo e vencer vãos maiores, as passarelas e escadas abertas são construídas em estrutura metálica.

A materialidade do conjunto é caracterizada pela própria natureza dos materiais de construção, deixados aparentes, reduzindo custos com acabamentos e explicitando a beleza da técnica na obra acabada: estrutura em concreto aparente, alvenaria em blocos de concreto e a caixilharia em alumínio. Nas fachadas, são aplicadas cores nos parapeitos dos vãos, de forma sutil, uma paleta harmônica e com pouca saturação, contrastando com a neutralidade das demais vedações.

Todas as unidades habitacionais obedecem ao conceito do Desenho Universal, oferecendo acessibilidade total e inclusão da pessoa com mobilidade reduzida.

O conforto térmico é garantido pela ventilação cruzada e por meio da proteção contra a incidência direta de raios solares, feita por abas formadas pela extensão das lajes de piso, uma solução tecnicamente simples e de baixo custo, que configuram varandas e apoiam brises móveis, podendo ser adequadamente posicionados, em função dos usos e da vontade de cada morador, atribuindo, ainda, efeito gráfico dinâmico às fachadas.

A presente proposta para as Unidades Habitacionais coletivas em Samambaia se apresenta como um exercício de busca por respostas objetivas às premissas identificadas, de modo direto e racional, baseado na técnica, economia e uso eficiente de recursos, traduzido, entretanto, de forma poética e generosa, por meio de espaços belos e surpreendentes, proporcionando o convívio social saudável e qualidade de vida aos seus moradores.