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2014
São Paulo – SP

Coordenador de Projetos: Arq. Ana Carolina Marques Damasco Penna
Responsável Técnico: Arq. Márcio Novaes Coelho Jr
Arquiteto Sênior: Arq. Silvio Sguizzardi

Projetos Complementares

Projeto de Fundações e Estruturas: Eng. Edison Martiniano de Oliveira Junior
Projeto de Instalações Hidráulicas e Sanitárias: Eng. Edison Martiniano de Oliveira Junior
Projeto de Instalações Elétricas e Eletrônicas: Eng. Joel Soares Gallis
Projeto de Instalações de telefonia (comunicação interna em geral): Eng. Joel Soares Gallis
Projeto de Instalações de Prevenção e combate a incêndio: Eng. Edison Martiniano de Oliveira Junior

Restauro do Casarão da Av. Paulista n°1919 – SP

MEMORIAL DESCRITIVO
Implantação
Considerando que o terreno original media 40 x 118 metros (4.720,00m²), estendia-se da Avenida Paulista até a Alameda Santos (implantação original: Processo Condephaat 22121-82, p.104) e foi duas vezes subtraído, primeiro, em virtude do alargamento da avenida, posteri-ormente, em função do desmembramento do lote para construção da torre de escritórios, tendo perdido as suas relações de frente e fundos, propomos a preservação total do jardim lateral ao Casarão e sua integração com o Parque Prefeito Mário Covas. O terreno liberado recebe adequado projeto de paisagismo, com o propósito de bem acolher o público visitante e atender às novas demandas das atividades externas do Museu.
O edifício anexo surge, portanto, como um bloco único, restrito ao fundo do lote, junto às divisas, como um corpo separado da edificação principal, conectados apenas por leves passarelas metálicas. O novo volume construído atende às exigências legais de uso e ocupação do solo, através da aplicação de recuo de 3 metros de seus elementos de vedação em relação aos lotes vizinhos, a partir de 6 metros de altura do nível do solo, conforme a legislação vigente.
Casarão
Acreditamos que, em virtude da excepcionalidade do bem tombado, sendo o único exemplar sobrevivente da primeira fase de ocupação da avenida, propomos a sua máxima preservação, não recebendo novas intervenções de maior impacto, além das delicadas passarelas que o conectarão ao edifício anexo. Pelo contrário, os elementos espúrios serão removidos e a edificação integralmente restaurada, de acordo com os critérios e recomendações contidos nas Cartas Patrimoniais. No processo de tombamento, consta cópia do Memorial Descritivo original da casa, documento fundamental para o embasamento da pesquisa a ser aprofunda-da. (Proc. 22121-82, p.99)
A escadaria principal, demolida quando do alargamento da avenida para dar lugar à construção do novo muro de divisa, será reconstruída, de acordo com o seu desenho original, conforme documentado nas plantas de aprovação da obra, constantes do acervo do Arquivo Municipal de São Paulo.
A nova ocupação proposta obedece à hierarquia original de ocupação pela família moradora, com as salas à frente destinadas a receber visitas (público) e, funcionando como filtro, direci-onando o visitante aos cômodos do interior da casa. (Proc. 22121-82, p.90)
Assim, o hall de entrada continua recebendo o visitante, que ali estabelece o primeiro contato com o espaço interno da edificação e com a sua rica ornamentação. Na antessala, está a recepção do Museu. Nos cômodos a seguir, de mais fácil acesso e que estabelecem contato direto com o movimento da avenida, através de seus generosos terraços, estão localizados a loja e o café, abertos para o espaço público, possibilitando o seu funcionamento de forma independente em relação às áreas de acesso restrito do Museu, como desejável.
No salão central, que pode ser acessado também através do pavimento inferior, se faz o controle de acesso às áreas expositivas. A partir dali, se forma um percurso de cômodo em cômodo, adentrando, como dantes, em direção aos fundos da residência, a intimidade e domesticidade do Casarão.
O percurso desenhado para as exposições de longa duração vai ao encontro da proposta de criação das duas linhas do tempo solicitadas, relativas à história do casarão e sua inserção na Avenida Paulista, e a do movimento pela construção da identidade da diversidade sexual.
As passarelas de ligação com o anexo permitem a continuidade deste percurso, direcionando o visitante às áreas de exposições temporárias.
No térreo, no porão alto, será realizado o rebaixamento de 30 cm do piso na parte posterior da construção, a mais recente, a fim de abrigar as áreas administrativas, de apoio e de serviço, com acesso restrito a funcionários e prestadores de serviço, com aberturas diretamente para o jardim. A parte frontal permanecerá aberta para visitação.
Anexo
A nova construção nasce da leitura do lugar, de relações estabelecidas para com o bem tombado, buscando um diálogo programático e formal, por meio de linhas de composição horizontais e verticais de elementos construtivos e estruturantes das fachadas, que definem proporções e, por fim, o seu caráter. Suas fachadas recebem um tratamento de brises de madeira verticais, que, além da função de controle ambiental, geram o efeito desejado de criação de uma nova paisagem, se mesclando com as linhas dos troncos das árvores, constituindo um novo pano-de-fundo para o casarão, uma vez que o original se perdeu.
Os brises terão o seu topo com acabamento em madeira natural e suas laterais receberão painel artístico pintado. Ao ser observado frontalmente, próximo da fachada principal do Casarão, as finas linhas verticais de madeira formarão uma textura delicada, o almejado pano-de-fundo para o bem tombado. Na medida que o visitante percorre o jardim e observa a estrutura obliquamente, descobre as faces maiores dos brises pintadas, e um jogo gráfico de formas e cores se descortina, se tornando mais ou menos intenso, dependendo da posição que o observador se coloca naquele espaço.
Essa edificação, como a preexistente, é formada por embasamento, corpo principal e terraço. É formada ainda por grandes vazios, resultantes dos recuos obrigatórios, que levam luz para os espaços internos e possibilitam a criação de terraços intermediários com vistas surpreendentes.
Através do jardim, por meio de um plano inclinado, o embasamento de concreto, sólido, levemente enterrado, pode ser diretamente acessado. Uma grande abertura anuncia o espaço destinado a eventos, podendo abrigar um grande número de pessoas, conectado ao auditório, com entrada independente das áreas expositivas, a fim de evitar conflitos de circulação, conforme solicitado.
A principal área expositiva, com pé-direito duplo, encontra-se logo acima, no mesmo nível do pavimento principal do Casarão, solução fundamental para a definição do partido arquitetôni-co adotado. Sobre este espaço, há ainda um mezanino, também destinado a exposições, que conta com um terraço externo, que pode ser utilizado como extensão natural deste espeço, de acordo com cada projeto expositivo.
No pavimento superior, encontra-se o Centro de Documentação e áreas técnicas de Conservação e Restauro, além da Reserva Técnica. Estas áreas, apesar de ter fluxos distintos, poderão ser avistadas pelo público que circula pelo Museu, descobrindo também essas atividades.
No topo do edifício, cria-se um terraço-jardim, no nível das copas das árvores, uma nova varanda que estabelece contato com o jardim e o parque, além de novas e inusitadas perspectivas da casa e da Paulista.
A circulação vertical no edifício se volta para o Casarão e para o jardim, levando, a todo momento, o visitante a voltar a entrar em contato com o bem tombado, redescobrindo-o a partir de diferentes perspectivas. As duas conexões entre as duas edificações possuem caráter diferente, funcional e lúdico e, permitem a flexibilidade do controle de acesso aos diferentes espaços do Museu, conforme desejado, permitindo que os fluxos distintos percorram simultaneamente o museu.
A nova construção será montada em estrutura metálica, com o objetivo de garantir leveza, rapidez e agilidade, com uma obra limpa, simples, eficiente, buscando evitar maiores riscos ao bem tombado. As soluções adotadas visam à economia de meios e recursos, sem qualquer prejuízo da qualidade arquitetônica e do respeito ao patrimônio cultural preservado.
Acessibilidade
O bem tombado receberá em sua escada lateral uma plataforma mecânica, evitando a interferência em sua fachada principal. Apesar do acesso lateral, a plataforma também dará ao cadeirante acesso diretamente ao hall de entrada do Museu. Todos os pavimentos do anexo são servidos por rampa ou elevador. A conexão por passarelas entre as duas edificações não enfrenta qualquer obstáculo, uma vez que o piso de conexão de ambas está devidamente nivelado.
Serviços
O edifício anexo possui elevador monta-carga adequadamente posicionado para carga e descarga direcionada. Está previsto também luminotécnica e sistema de climatização para controle rigoroso das salas expositivas, que contam com iluminação natural controlada e proteção pelos brises de madeira. O condicionamento de temperatura e umidade será específico para cada ambiente. Para todos os ambientes, inclusive os do Casarão, serão previstos modernos sistemas de segurança e combate a incêndio.
Paisagismo
A vegetação arbórea existente será preservada, conforme estipula a minuta de tombamento (Proc. 22121-82, p.163). O novo desenho proposto busca integrar esta vegetação, valorizando-a e permitindo a inserção de novas espécies, nativas, de forma a definir áreas de vegetação mais ou menos densa, estabelecendo uma hierarquia de espaços externos, com diferentes funções.
O muro frontal será recuado, criando-se uma praça arborizada junto à fachada principal do Casarão. Os antigos gradis de ferro, ainda originais, apesar de terem sido relocados na década de 1970, passarão a delimitar a divisa entre o terreno do Museu e o parque.
Para garantir o controle de acesso e a segurança nos horários em que o Museu se encontrará fechado, foi previsto um novo gradil, cujo desenho incorpora um banco, oferecendo aos visitantes e pedestre, um agradável local de descanso.
Com este espírito de abertura, receptividade, respeito e liberdade, a luta da população LGBT pela valorização da diversidade sexual, preservação de sua cultura e defesa da igualdade de direitos passa ter mais que uma casa, um verdadeiro espaço público, democrático por excelência.